Outubro foi o mês do meu retorno a minha casa, após as merecidas férias. Não foi uma volta exatamente feliz. A viagem foi cansativa, estava ansiosa por chegar, as novidades que me esperavam não foram boas. Enfim, viver pode ter alguma previsibilidade, porém nenhuma estabilidade. Segurança? Somente as veiculadas nas mensagens publicitárias. E sabemos bem qual é o objetivo que as move. Certezas? Apenas as religiões ainda insistem em propagar a idéia de alguma certeza. Futuro? Isso é conversa própria de mercados financeiros e promessa de políticos obtusos.
Vivo no hoje, agora, nesse instante. (Ou quase, o que significa que tento, a despeito das pouquísimas certezas que tenho, que persistem, insistentes.) Viver, para mim, significa a pulsação intensa, o brilho no olhar, o olho que vê e percebe as oportunidades e as aproveita, o limão transformado em limonada, a inteligência em movimento, o afeto em troca. Sempre o afeto, o interesse interesseiro, nunca. Viver é coragem e força. Coragem para recomeçar e fazer diferente. Força para titubear e andar devagarinho. Viver é disciplina para seguir dia após dia na aposta do novo, mesmo em face do que já é velho e gasto. Viver é sentir-se livre em meio a tantas amarras que nos são impostas.
Em virtude dessa dimensão enorme do viver, estou aqui para contar que outubro iniciou-se com uma rasteira, que me fez ir ao chão, metafórica e literalmente. A primeira não vale a pena relatar, mas a segunda vale pelo riso (o que é sempre bom). Por conta da dificuldade de controlar a abertura e fechamento das pernas, devido ainda à última cirurgia, caí, ou melhor, os pés deslizaram um para cada lado e deixaram-me estatelada no chão na clássica posição de ballet, em total abertura de pernas. Seria uma posição erótica, se não fosse ridícula; seria uma cena belíssima se estivesse num palco e não na minha sala. Podem rir. Foi uma cena cômica. E muito dolorosa. Mas já passou e os exercícios de musculação estão me deixando mais firme. Em todos os sentidos.
As quedas têm uma função: nos deixam mais fortes. O mês seguiu com a música de Lui Coimbra e seu violoncelo (uma agradável descoberta), o violão bossanovista de Toni Barreto, as gargalhadas da Beth, minha amiga de muitos anos, as conversas com a Ju, que enlargueceu o meu círculo de amizades ao compartilhar suas amigas, a comemoração do aniversário da Marcia Limani, minha professora de cerâmica, a visita da minha mãe e de uma de minhas irmãs, e terminou com a Cíntia vendo e comentando as fotos da minha viagem.
Após as chuvas de outubro, novembro abriu em sol e voltei aos passeios de bicicleta. A vida social continua intensa. Foi tempo de ouvir o chorinho na praça, de almoços e lanches, com a Ju, a Lurdes, a Beth, a Eliene, o filhote. Uma ida ao Clube das Mulheres (merecia uma crônica, daquelas bem reflexivas e com uma pitada sociológica, com fotos ilustrativas) e ao Museu Nacional de Belas Artes para ver a exposição do Chagall (belíssima), lançamento do livro do Maurício da Silva, um professor que muito me inspirou, e a oportunidade de rever a professora Themis, uma querida que nos fez analisar várias gramáticas da língua portuguesa e perceber as disparidades e concepções ideológicas que há em cada uma delas. Mais uma comemoração de aniversário, dessa vez com muita dança, e mais música, popular brasileira no Rio Scenarium, e Carmina Burana com o grupo de música antiga da UFF (um trabalho magnífico de resgate da música medieval e renascentista). Apresentei um texto sobre Pedro Paixão, escritor português, em uma mesa redonda, no Simpósio Internacional de Letras Neolatinas, na UFRJ, e participei de um workshop sobre fotonovelas digitais, organizado pela Suzana Vargas. Fui à Mostra de Videografismo, a convite da minha colega de trabalho, Sheila Suzano, e ainda assisti a um esquete de humor (stand up comedy). E o mês nem terminou!
Está sendo também um período de volta às consultas médicas e daqui a algumas horas será a vez do oncologista. Com certeza dirá que está tudo bem, pedirá alguns exames. Afinal, estou realmente bem disposta. Estou viva.
O mais importante, contudo, até mesmo urgente, antecedendo o relato das férias, que virá em breve, é registrar aqui alguns agradecimentos (ainda que os já tenha feito pessoalmente).
Ao meu amigo José Loureiro e sua esposa Celeste, que me receberam no Porto com atenção e afeto. Eles são proprietários de dois apartamentos na Ribeira e os alugam para pequenas temporadas. Hospedei-me em um deles e passei dez dias com muito conforto, desfrutando a paisagem belíssima do rio Douro. Além disso, há o restaurante
Vinhas d'Alho, igualmente de propriedade do casal, onde pude saborear pratos portugueses, servidos com elegância, em um ambiente de bem estar. Deixo o link para que conheçam, virtual e pessoalmente:
www.ribeiradoporto.com A minha amiga Cinda, de Ovar, uma mulher determinada, simpaticíssima e muito agitada, que me recebeu em sua casa e conduziu pelos arredores da cidade. Com ela pude conhecer a Guida e saborear a hospitalidade e a mesa da Isabel Alegria e de seu marido. Na "casa dos avós", tive o privilégio de estar mais uma vez com a Natty, uma pessoa linda, que me deu muitos mimos. Com vocês, meninas, senti-me em casa.
À Manuela, de Alcobaça, que também abriu-me as portas de sua residência e me recebeu com um abraço longo e muita simpatia.
Ao Rui Germano, por me presentear com a hospitalidade, a elegância e doçura de sua mãe, Cacilda Germano, e com a atenção de sua irmã Isabel, em Rio Maior e em Lisboa. Rui ainda me integrou ao grupo de
Rosa, Esperança e assim me foi possível passar um fim de semana em Faro, assistir a representação da peça, conhecer a cidade e a Isabel Guerreiro, passar horas agradáveis e divertidas com Nela e Paulo Azevedo, CrisJ, Cristina Vicente, Alda e Zé Manel, e Tó Vieira.
A todos os integrantes da peça
Rosa, Esperança por me terem recebido como se do grupo fizesse parte.
À Isalenca pela recepção calorosa em Lisboa, a conversa inteligente em volta do Parque das Nações, pelas indicações de lugares a visitar, e organização do almoço em que pude estar pessoalmente com as meninas Gigi, Lina, Maguie e Liliana.
As fotos virão em outro post, a hora já vai muito adiantada e o sono, atrasado.
Beijinhos