Rio de Janeiro, Brasil. Céu de outono, de frente para o mar, melão com hortelã refresca a conversa. O arco-íris aponta o pote de ouro, não ao final, mas ao centro do grupo: a amizade. Felicidade é festejar a vida! Podemos estar em qualquer lugar do mundo. Donas da língua em seus múltiplos sentidos...
domingo, 11 de maio de 2008
Queda livre
Momento difícil. Os cabelos caem terrivelmente. Escová-los tornou-se um tormento, lavá-los, pior ainda! Acordar significa ver minha imagem desfeita em fios sobre o travesseiro. Entendo, agora, o desespero de alguns homens. Principalmente daqueles que puxam o último fio e o jogam para a frente, a fim de esconder a calvície. Faço mais ou menos isso, tento preencher o vazio que cresce no alto da cabeça.
Até então, conseguia lidar bem com o câncer, afinal não tenho cara de doente, muito pelo contrário, a aparência está ótima! Tenho forças (e ânimo) para andar, correr, enfim, ter uma vida normal. É certo que atualmente disponho de dois registros identitários: o documento oficial, igual ao que todos têm, e a carteira de paciente do INCA, que não sai mais de minha bolsa. Esses documentos, entretanto, não estão visíveis a quaisquer olhos. Começar a perder os cabelos me põe frente a uma outra realidade. Agora, o câncer se materializa no visual, os fios matinais (e os que se espalham por onde quer que eu passe, uma chatice!) me fazem lembrar que desse momento em diante ficará evidente para qualquer pessoa que sou alguém em tratamento quimioterápico.
Saberei encarar os olhares alheios? Compreenderei a voz do espelho em todas as manhãs que virão? Ouço com freqüência o seguinte: "não se antecipe, viva uma etapa de cada vez". Pelo sim, pelo não, comprei uns chapéus lindinhos, umas fitas formosas e ganhei lenços (de duas irmãs muito fofas, jovens, minhas vizinhas). Assim vou me preparando para a inevitável carequice. Inevitável e ... transitória. Como todas as coisas, enfim.
Que me acompanhem a leveza e o riso!
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8 comentários:
Amiga,
Me dói a alma ler o que sente e passa. Ao ler agora, pude sentir como se fosse comigo (somos parecidas em algumas coisas - alegria, a praia, a vontade de curtir a vida intensamente em cada vão momento) e penso: o que gostaria eu de ouvir numa hora dessas?
Acredito que cada mão amiga que se estende (mesmo que a distância, às vezes) seja uma força a mais pra ajudar a passar por este momento (com certeza passageiro).
Força! Força! Força!
Lembre-se de que depois da tempestade, vem a bonança!
Aguente o mais firme que puder este vendaval!
Te adoro careca ou cabeluda! Você é bonita de qualquer jeito, estilosa!!!!
É isso aí ... mantenha-se estilosa!!! Mostre sua alma ... é isso que irão ver quando olharem pra você.
Nada pode roubar a beleza de uma alma criativa e feliz como a sua!"Cuide do seu jardim que as borboletas aparecerão".
Beijão
Amiga,
Você não imagina o quanto essas mãos amigas distantes têm me ofertado. Bem mais até do que algumas que estão mais próximas.
(Não as julgo, tento compreendê-las, não deve estar sendo fácil para elas).
Mas, bom mesmo é ler você, a sua energia, a sua força.
Obrigada por sua amizade.
Um beijo no coração.
Olá sou aluna da professora Nilma Lacerda. Li as suas postagens e esta sobre a sua luta diária me fez lembrar as seguintes palavras de Drumond:"A cada dia que vivo, mas me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e, que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional..."
Que tais palavras possam alimentar a sua alma!
Zálima Viana
Olá, Zálima.
Bela lembrança do texto do Drummond. O sofrimento é opcional realmente e algumas dores são evitáveis.
Obrigada pelo comentário e volte sempre.
Um beijo
Olá, vim aqui parar através do blog da Alda.
Também eu estou neste momento a dar luta a esse bicho horroroso que é o cancro. Primeiro fui operada, depois fiz quimio, radio e agora estou novamente em quimio. Sabes o meu cabelo começou a cair 15 dias depois do 1ºtratamento, fui à cabeleireira e cortei com uns 3 dedos de altura e comecei a usar cabeleira (decidi usar por causa das minhas filhotas, que me diziam que as princesas não eram carecas).
Não é muito práctico mas elas estão felizes e isso faz-me sentir bem, uso com gorros, lenços e fitas.
O meu cabelo foi caindo lentamente e só passadas mais 4 semanas é que o cortei rente.
Agora,com 1 cm, até já dava para sair sem problemas, mas como vai cair novamente decidi não mostrar.
jokas e muita força!
Olá, gatapininha!
Essa blogosfera é mesmo fantástica! E é muito bom ter vc aqui.
Também tenho um gato, o Botero, um cão, o Bartolomeu e um filho lindo.
E os cabelos ainda resistem... mas creio que agora por pouco tempo. Ainda não decidi se vou mostrar a careca. Fiz a quarta sessão de quimio no dia 09/07, basicamente só tenho enjôo (pouco), o rosto fica avermelhado, não perco o apetite e faço mil coisas, não me deixo abater. Estou de licença no trabalho e aproveito para fazer um curso de artes plásticas e outro de web design. Aliás, agora só quero fazer coisas que me dêem prazer e alegria.
Bom fim de semana.
Força!
Beijos
Olá Maisa
Só para dizer que também te adicionei e vou passando por aqui para saber como vais passando. Eu voltei à pouco ao trabalho, pois já estava saturada de estar sem fazer nada, e tanto que tinha/tenho para fazer, mestrado e formação, mas não conseguia me concentrar! Agora estou quase de férias e depois começo o ano lectivo a 99%, pois a dúvida fica sempre cá!
jokas
Sandra
Oi, Sandra!
Essa coisa da concentração também está me afetando. Estou na metade do meu doutorado e não consigo dar continuidade, mas é algo que pretendo resolver logo. Não dá pra desistir agora.
Sim, a dúvida fica, e como tive três lesões possivelmente simultâneas faço aconselhamento genético para investigar a origem e precaver o resto da família.
Vamos nos falando, sim. Isso é muito bom!
Boa sorte nos estudos!
Beijos
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